Sistema Kell: importância clínica, antígenos, anticorpos e o papel da fenotipagem K na rotina transfusional

O Sistema Kell é um dos sistemas de grupos sanguíneos mais importantes da imuno-hematologia, ao lado de Rh e ABO, tá no terceiro lugar dos mais imunogênicos. Ele se destaca não apenas pela sua alta imunogenicidade, mas também pela relevância clínica dos anticorpos formados contra seus antígenos.

O que é o Sistema Kell?

O Sistema Kell é composto por mais de 30 antígenos já descritos, expressos na proteína Kell, uma endopeptidase zincodependente presente na membrana da hemácia. Essa característica enzimática o torna um sistema estruturalmente diferente dos demais, com papel também na biologia eritroide.

Entre os antígenos mais conhecidos estão:

  • K (Kell, K1) – altamente imunogênico
  • k (Cellano, K2) – muito frequente na população
  • Kpa, Kpb, Kpc – polimorfismos representando pares antitéticos (Kpa/Kpb; Kpb/Kpc)
  • Outros antígenos de menor frequência clínica, porém relevantes em casos específicos

Anticorpos do Sistema Kell

Os anticorpos mais frequentemente encontrados são:

  • Anti-K
  • Anti-k (Cellano)
  • Anti-Kpb, Anti-Kpa, entre outros

Características:

  • Geralmente IgG, reagindo a 37 °C e na fase de antiglobulina
  • Clinicamente significantes
  • Associados a reação hemolítica transfusional (RHT)
  • Importantes na doença hemolítica do feto e do recém-nascido (DHFRN), já que podem inibir a eritropoese fetal (casos gravíssimos!!!)

Por esses motivos, identificar corretamente o fenótipo Kell do paciente (e do doador) é essencial na prática transfusional segura.

 Por que a fenotipagem K é tão importante?

A fenotipagem para K (Kell) permite:

  • Selecionar hemocomponentes negativos para K para pacientes que formaram anti-K
  • Reduzir risco de aloimunização em grupos especiais (transfundidos crônicos, gestantes, onco-hematológicos) – Aqui vale a recomendação de enviar K- para mulheres em idade fértil
  • Melhorar a segurança transfusional em populações com maior exposição a múltiplas transfusões

Como o antígeno K é relativamente raro, mas muito imunogênico, pacientes K-negativos que recebem sangue K-positivo têm grande chance de formar anti-K — por isso a fenotipagem é tão valorizada.

Ter um sistema bem estruturado de fenotipagem Kell não é apenas uma questão de “completar painel”: é parte essencial de uma prática transfusional mais segura, especialmente para pacientes que recebem múltiplas transfusões ou têm maior risco de aloimunização.

Recursos como o cartão DG GEL Rh Pheno + KELL e os antissoros para Cellano, Kpa, Kpb ajudam o laboratório a enxergar além do ABO/RhD, integrando o Kell à rotina de forma natural. No fim, o objetivo é sempre o mesmo: conhecer melhor o sangue que doamos e transfundimos, prevenir anticorpos clinicamente significantes e cuidar melhor dos nossos pacientes.