Na rotina dos laboratórios de imuno-hematologia, as soluções enzimáticas são aliadas valiosas na investigação de anticorpos e na identificação de antígenos eritrocitários. Entre as mais utilizadas estão a bromelina e a papaína, enzimas proteolíticas que, quando aplicadas de forma criteriosa, podem ampliar a sensibilidade dos testes sorológicos e revelar reações que passariam despercebidas em condições padrão.
Como atuam as enzimas na imuno-hematologia
As enzimas agem sobre a membrana eritrocitária, modificando sua superfície por meio da clivagem de resíduos de glicoproteínas. Esse processo remove parte das cadeias de polissacarídeos, o que pode aumentar ou diminuir a expressão de determinados antígenos.
De forma simplificada, as enzimas expõem alguns antígenos que estavam mascarados e reduzem a expressão de outros.
Por exemplo:
- Antígenos que têm sua reatividade aumentada após o tratamento enzimático incluem os dos sistemas Rh, Kidd (Jk) e Lewis (Le).
- Antígenos que têm sua reatividade reduzida ou destruída são os dos sistemas MNS (especialmente M e N, mas Ss também na grande parte das vezes) e Duffy (Fya e Fyb).
Essa diferença de comportamento é explorada em testes de triagem e identificação de anticorpos, pois a comparação entre resultados com e sem tratamento enzimático pode indicar o sistema antigênico envolvido na reação.
Quando usar bromelina ou papaína
As enzimas são particularmente úteis em situações em que o painel de anticorpos apresenta múltiplas reações e é necessário reduzir o número de possibilidades. Também são indicadas em casos de anticorpos frios, reações mais fracas ou em amostras com anticorpos múltiplos que dificultam a leitura do padrão sorológico.
- A bromelina, extraída do abacaxi, é uma enzima de ação moderada, mas que funciona muito bem!
- A papaína, obtida do mamão-papaia, é mais potente, promovendo uma digestão mais intensa e, portanto, mais usada por aí.
No entanto, o uso das enzimas requer cautela. O tratamento excessivo pode causar hemólise ou destruição completa dos antígenos, levando a resultados falso-negativos. É essencial seguir o tempo e a temperatura de incubação recomendados pelo fabricante e sempre realizar controles paralelos com hemácias não tratadas.
Cuidados na rotina laboratorial
O preparo manual de soluções enzimáticas demanda atenção especial, pois a atividade enzimática pode variar conforme o lote, pH, concentração e tempo de armazenamento. Por isso, cada vez mais laboratórios têm optado por soluções prontas para uso, que garantem padronização e estabilidade.
Além disso, é importante lembrar que as enzimas não substituem outras etapas do processo de identificação. Elas complementam os testes convencionais (salina, albumina, LISS, cartão…), auxiliando na interpretação e exclusão de possibilidades.
As hemácias da triagem/identificação de anticorpos irregulares podem também já vir de fábrica tratadas com essas enzimas, o que facilita e muito a nossa vida! Porém, se no seu serviço não tem essa opção, o tratamento pode ser feito seguindo as instruções de uso sem problema nenhum!
Soluções enzimáticas Martell: praticidade e confiabilidade
A Martell oferece soluções prontas e de alta performance para uso rotineiro em imuno-hematologia, como a Bromelase 30 e a DG Papain.
- Bromelase 30 é uma solução estável, pronta para uso, com excelente padronização enzimática e durabilidade, ideal para laboratórios que buscam eficiência sem comprometer a qualidade dos resultados.
- DG Papain possui alta atividade proteolítica controlada, garantindo digestão eficiente e reações nítidas, com menor risco de hemólise ou falsos resultados.
Ambas dispensam preparo manual, reduzem o risco de variações intertécnicas e são compatíveis com diferentes metodologias, como técnicas em tubo, microplaca e cartão, o que as torna ideais para bancos de sangue, hospitais e laboratórios de referência.
O uso de bromelina, papaína e outras soluções enzimáticas é um recurso poderoso na investigação imuno-hematológica. Quando aplicadas de forma adequada, elas aumentam a sensibilidade dos testes, auxiliam na elucidação de anticorpos complexos e contribuem para a segurança transfusional.
Ao optar por soluções de qualidade e padronização, o banco de sangue e o laboratório asseguram resultados reprodutíveis, economia de tempo e confiança no diagnóstico imuno-hematológico.
Referências
- AABB Technical Manual, 21ª edição. Bethesda, Maryland: American Association of Blood Banks, 2023.
- Dorfman, L. E., & Buchanan, D. I. Enzyme-Treated Red Cells in Serologic Testing. Transfusion, 1967.
- Daniels, G. Human Blood Groups, 3rd ed. Wiley-Blackwell, 2013.
- Brasil. Ministério da Saúde. Manual Técnico de Hemoterapia, 2015.