Fracionamento inteligente do sangue na rotina do hemocentro

Depois da coleta da bolsa de sangue total, começa uma das etapas mais importantes da hemoterapia: o fracionamento do sangue. É nesse processo que uma única doação pode se transformar em diferentes hemocomponentes, permitindo atender vários pacientes com necessidades distintas.

De forma geral, o fracionamento do sangue gera principalmente:

  • Concentrado de hemácias (CH)
  • Plasma fresco congelado (PFC)
  • Concentrado de plaquetas
  • E, em algumas rotinas, também crioprecipitado

Entre a camada de hemácias e o plasma, após a centrifugação, forma-se o chamado buffy coat – uma camada leucoplaquetária.

Separação das camadas (fracionamento em si)
Após a centrifugação, o operador posiciona a bolsa em um separador de sangue (manual ou automático) e, a partir dali, o conteúdo é transferido para as bolsas satélites:

  • o plasma é drenado para uma bolsa específica;
  • as hemácias, com parte do buffy coat, permanecem na bolsa original ou são direcionadas para outra;

Quando o processo é manual, a definição dos pontos de corte entre as camadas depende diretamente da experiência e percepção visual do profissional. Já no fracionamento automatizado e “inteligente”, essa tarefa passa a ser guiada por sensores e algoritmos.

Chamamos de fracionamento inteligente o uso de sensores, balanças integradas e algoritmos para reconhecer as camadas formadas após a centrifugação e controlar, de maneira automática, o fluxo de separação do sangue.

Na prática, isso significa que o equipamento “enxerga”:

  • onde termina a coluna de hemácias,
  • onde começa o buffy coat,
  • e onde se inicia o plasma,

ajustando a abertura e o fechamento do clamp, o tempo de drenagem e o volume de cada componente praticamente em tempo real.

Esse tipo de sistema reduz a dependência da observação manual, diminui a variabilidade entre operadores e torna os hemocomponentes mais padronizados.

Por que sensores e algoritmos são tão importantes?

Mesmo que o princípio físico seja simples (componentes se separam por densidade), na prática existem variações importantes entre doadores:

  • volume total coletado,
  • hematócrito,
  • viscosidade,
  • posicionamento da interface após a centrifugação.

No fracionamento manual, cada operador “lê” essas interfaces de um jeito. No fracionamento inteligente, sensores ópticos ou de outro tipo fazem essa leitura de forma contínua, alimentando algoritmos que:

  • identificam o ponto exato de transição entre hemácias, buffy coat e plasma;
  • controlam o clamp automaticamente;
  • padronizam volumes e rendimentos.

O resultado é um fracionamento mais estável, com:

  • melhor aproveitamento de hemácias,
  • plasma com composição mais reprodutível,
  • plaquetas com melhor rendimento, quando essa produção faz parte da rotina.

 

Padronização e impacto na qualidade dos hemocomponentes

A padronização é um dos maiores ganhos do fracionamento inteligente.

Quando o processo é automatizado:

  • a diferença entre um operador experiente e um novo membro da equipe diminui;
  • há menos risco de “passar do ponto” no corte das camadas;
  • reduz-se o retrabalho e o descarte;
  • os hemocomponentes tendem a ser mais homogêneos, tanto em volume quanto em composição.

Isso impacta diretamente a qualidade transfusional, especialmente em pacientes que recebem múltiplas transfusões ou que dependem de componentes mais estáveis, como plaquetas e PFC.

Fracionamento inteligente na prática: o papel dos separadores automáticos

Na rotina dos hemocentros, tecnologias como os separadores automáticos MACOPRESS e MACOPRESS Smarter representam essa evolução do fracionamento.

Esses equipamentos integram:

  • sensores para leitura das camadas,
  • balança e controle de fluxo,
  • algoritmos para definição das interfaces,
  • e um fluxo de trabalho padronizado que facilita o treinamento da equipe.

Mais do que “máquinas de fracionar”, eles se tornam parte de uma estratégia de qualidade, rastreabilidade e padronização do processamento do sangue.

O fracionamento do sangue é muito mais do que “dividir uma bolsa”: é uma etapa que define a qualidade dos hemocomponentes que chegarão ao paciente.

Ao unir o conhecimento técnico sobre centrifugação, buffy coat, hemácias, PFC, plaquetas e crioprecipitado com tecnologias de fracionamento inteligente, hemocentros e serviços de hemoterapia conseguem:

  • reduzir a variabilidade,
  • melhorar o aproveitamento de cada doação,
  • e entregar hemocomponentes mais consistentes e seguros.

Automação, nesse contexto, não substitui o profissional, potencializa o que ele faz, trazendo ciência, precisão e estabilidade para uma etapa essencial da cadeia transfusional.